quarta-feira, 7 de maio de 2008

[samurai]

Isso já tem um tempo considerável, mas fui um desses irritantes aficcionados por coisas japonesas. E eu adorava samurais. Eventualmente, desencantei. Agora posso escolher o que gosto e o que não gosto nas coisas que vejo, sem ter minhas vontades e gostos dirigidos pela necessidade patológica de coerência com meu fanatismo.

E sendo assim, achei interessante quando peguei pra ler o Hagakure, o livro do samurai, depois de tanto tempo. E consegui simpatizar com o senhor Yamamoto Tsunemoto, autor da coisa. Esses samurais tinham tudo pra terem as cucas fodidas, mas focavam sua atenção no que estivessem fazendo. Às vezes não parece, mas é um puta jeito saudável de encarar as coisas. Especialmente se o que vc estiver fazendo no momento for desviar de flechas ou cortar cavalos.

De fato, os tempos são outros, e o que sobra de tudo é sempre a universalidade delas, sua relação com a Grande mesma coisa. E por isso o Sr. Yamamoto me pareceu uma boa figura. Em meio a recomendações sociais, estratégias de batalha e a faláscia padrão do samurai subordinado dá pra vislumbrar o que ele queria de fato que a gente soubesse. E ao longo da história da humanidade temos um punhado de gente legal assim, geralmente são vangloriados como gênios ou pensadores a frente de seus tempos... não que não fossem... mas quando a gente pensa assim, nos distanciamos deles e reafirmamos nossa posição sonâmbula de respirantes. Eles eram bons navegantes, o Sr. Yamamoto, o Sr. Tesla, o Sr. Oda e tantos outros, tantos mesmo. Foram e são muitos e vão ser mais, e eventualmente serão só eles, mas eles e nós seremos os mesmos, todos bons navegantes. Pairando além do mapa da realidade imposta. Nós vivemos no tempo que estava a frente deles.

Penso assim, mas não é bandeira, filiação, crença, partidarismo, ideologia. Já cumpri meu compromisso com a vida, o de permitir que ela fosse maior que qualquer falta que eu pudesse sentir, qualquer tristeza que se abatesse sobre mim. O que, nem de longe, quer dizer que não vá sentir faltas, ou tristezas, eu só entendi que elas são menores que a vida. Tenho outros objetivos agora. E muitos eu nem sei quais são. Só me parece uma coisa muito interessante continuar vivendo e descobrindo as coisas e sabendo do que ainda não sei. Falei sobre apaixonar-se há alguns dias atrás e pedi: Não me entendam errado. Não adiantou muito, as pessoas continuaram achando que eu só desprezo a paixão. Mas é que isso, como a tristeza, é menor que a vida também. E prefiro deixar o deslumbramento pra quando nos arrebata, não pra depois ou pra antes disso. E ainda fico feliz quando ganho sorrisos simpáticos de bom dia das minhas companheiras de natação. (ok, pausa pra todo mundo pensar em hidroginástica e imaginar a D.Edna me dando um belo beijo de bom dia ao mesmo tempo que reafirma sua vontade de que eu conhecesse sua neta, com quem ela se parecia muito quando era nova.) Mas não, tô falando da moça simpática que nadou na mesma raia que eu hoje e que tem o sorriso de bom dia mais agradável do mundo.

Eu não desprezo isso, pelo contrário, acordei bem chateado com as coisas e pensando em um discurso enorme sobre como é difícil que as pessoas entendam que amar o mundo não diminui o carinho que temos por pessoas específicas, é só diferente. E diferente é bom. Mas bem, era um disurso maior que esse parágrafo e o sorriso de bom dia da moça me fez deixar isso pra lá. Por enquanto é melhor trabalhar pra diminuir minha pretensão, que se prova enorme vide o tanto que eu escrevi aqui.

Por uma boa vida.

Um pouco do Sr. Yamamoto:

"...(sobre inteligência, humanidade e coragem)...A inteligência não é nada mais do que debater com outras pessoas. A sabedoria ilimitada é resultado disso. A humanidade é algo que se faz em benefício dos outros, simplesmente nos comparando a eles e os colocando em primeiro plano. Ter coragem é cerrar os dentes e avançar, independentemnete da situação. Não é preciso conhecer coisa alguma além dessas três."

"Para atingir a pefeição, é preciso se abster de aventuras amorosas. Você precisa de muita força de vontade pra fazer isso." *eu discordo, mas é perfeitamente compreensível a afirmação dele.

"Dizem que o espírito de uma era é algo para o qual não se pode retornar. A dissipação gradual desse espírito se deve ao fato de o mundo estar sempre em processo de transformação. Da mesma forma, um ano não possui apenas o inverno e o verão. O mesmo ocorre com o dia.
Por essa razão, embora gostássemos que o mundo ainda tivesse o espírito de cem anos atrás, isso não pode ser feito. Exatamente por isso é importante fazer o melhor a cada geração. Esse é o grande erro dos saudosistas. Eles não conseguem ver as coisas dessa maneira. Por outro lado, as pessoas que se interessam apenas pelos tempos atuais e discordam dos métodos do passado são muito frouxas."

"A vida do ser humano é realmente curta. A melhor maneira de viver é levar a vida fazendo o que você gosta. É tolice passar toda a vida envolvido pela ilusão que é este mundo, vendo coisas desagradáveis e fazendo apenas coisas de que não gosta. Mas é importante nunca dizer isso aos mais jovens, pois seria prejudicial se não fosse compreendido corretamente.
Quanto a mim, gosto de dormir. Pretendo me confinar cada vez mais dentro do meu quarto e passar a vida dormindo."

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