domingo, 30 de dezembro de 2012

Passei com o tempo. Que bom. Não fiquei vendo passar. Para o próximo ano, quem sabe, passeio com o tempo, porque dessa vez mal deu pra passear. Justo agora, que aprendi essa coisa de perceber, o tempo não abriu mão de passar sem parar. Talvez eu faça como aprendi, pego na mão do tempo, em meio à sua maior crise de ansiedade e digo bem feliz no seu ouvido, "tá vendo esse tanto de coisa boa acontecendo? Você que fez!". Só acho que ele deveria saber... Pra mim fez maravilhas...

Ou talvez só conte pra ele que ter vivido tudo que ele proporcionou deixa meu presente mais leve, e que se tem alguém que pode se orgulhar do bem que faz, é o tempo.

Mas é melhor não julgá-lo além da conta, como amigo, convém dizer tudo que faz de errado e que gosto dele mesmo assim, mas que não se pode reclamar das perdas que provocamos se insistimos em nos comportar de forma a provocá-las.

A palavra correu solta em 2012, fez milagres e, se eu deixar que seja assim, terá provocado desastres também. A rede elaborada de rancor que fiei ao longo dos anos faz algumas coisas grudarem na cabeça depois de passarem pelos ouvidos. Preciso limpá-la, e depois desfiá-la. Mas isso leva... como não... tempo.

Somos todos importantes e estamos todos juntos. Reconheço minha importância porque reconheço a sua. E é fato, não há vida senão daqui pra frente.

A família que parece nova, é a mesma que sempre esteve lá pra mim e merece que eu esteja lá para eles. Os amigos que me ensinaram que posso ser o que bem entender merecem que eu me esforce mais para estar com eles. A mulher que amo e que me faz o sujeito mais feliz desse mundo me merece inteiro e não caindo aos pedaços.

Dito isso, a sacola de culpa fica por aqui, não vai comigo no ano que vem. Preciso abrir espaço, vou deixar o coração mais confortável pra todo mundo que mora nele.

A todos e todas, é isso que desejo para o próximo ano, que tenhamos corações aconchegantes... e que possamos passear com o tempo.

Por uma boa vida, em 2013 e além.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Meu primeiro FIQ


Nos divertimos fazendo quadrinhos e ficamos na torcida para que as pessoas se divirtam lendo – isso é o Quadrinhos Rasos. E, puxa vida, como foi divertido o 7º FIQ. Poder conhecer tanta gente que apoiou o Achados e Perdidos pessoalmente foi lindo, tentamos abraçar o máximo de pessoas possível! Como qualquer um que esteve lá já sabe, o evento teve um público incrível!!! Pessoalmente, sonho com um mundo onde quadrinhos são assim, um entretenimento para todo mundo.

Pois bem, foi sem dúvida um evento histórico, e como sujeito ansioso que sou, só consigo pensar em estar a altura do próximo. Continuar trabalhando e produzindo sempre buscando ser melhor a cada produção. Mas hoje vou me dar o direito de descansar um pouco e agradecer todos vocês.

Começando por todo mundo que fez do Achados e Perdidos uma realidade, o que fizeram não existe e poder ver a maioria dos apoiadores pessoalmente e entregar-lhes seus livros foi muito bom. Muito bom mesmo!!! Eu não acreditava que vocês estavam lá, fazendo aquilo tudo. Cada pessoa, cada comentário, foi uma sensação indescritível colocar rostos nesses realizadores. Eu amo vocês e sou muito grato por terem embarcado nessa com a gente. E aproveito o ensejo para fazer uma breve observação sobre o processo de financiamento colaborativo:

Sou um sujeito megalomaníaco em vários aspectos, e geralmente não vejo porque não tentar realizar o que me parece certo. Três fatores foram cruciais para que tomássemos a decisão de lançar o álbum dessa forma: o número crescente de visitantes no site Quadrinhos Rasos e seus comentários extremamente carinhosos, o convite para expor no FIQ e a convivência de perto com os Pandemônios (mais sobre isso daqui a pouco). Foram esses os fatores que fizeram com que eu acreditasse sem pestanejar que o álbum seria uma realidade. Somado a isso, fui iluminado um belo dia pela ideia de convidar o Bruno Ito e aí sim, o Achados e Perdidos virou o que ele é. Trabalhar tendo o Luís Felipe e o Bruno Ito ao meu lado foi uma das experiências mais desafiadoras e gratificantes da minha vida, e já estou doido para repetir a dose. Decidimos lançar mas não tínhamos qualquer dinheiro, eu já conhecia o financiamento colaborativo há um bom tempo e já vinha namorando a ideia, quando paramos para pensar em tudo no que acreditamos em relação à produção de quadrinhos, essa forma de financiamento caiu como uma luva. Em resumo, ela parecia honesta e certa. Ainda mais relacionado ao fato de que trabalho exclusivamente com software livre e acredito muito no Creative Commons. Foi com essa mentalidade que tocamos toda a campanha de divulgação do livro – queríamos fazer sempre o que nos parecesse certo e da forma mais honesta possível. Divulgamos o primeiro capítulo e a primeira música para que ninguém precisasse apostar no escuro e em nenhum momento mentimos sobre nosso desespero absoluto em relação a isso tudo ou em relação ao amor (sem exageros, amor mesmo) por todo mundo que de qualquer forma nos apoiava. Enquanto isso trabalhamos incessantemente na produção do livro. Valeu cada segundo, e não foi sofrimento nenhum, desespero e ansiedade sim, mas sofrimento nunca – foi sempre divertido, cada página desenhada, finalizada e colorida era uma conquista e cada música que o Ito fazia nos transportava para um mundo mágico onde as coisas estão sempre bem. Quero fazer isso desse jeito para o resto da minha vida, e vou me esforçar para isso. Quando atingimos a meta ficamos muito felizes, mas como eu disse, sou hipertenso e ansioso, então sem ter o livro 100% pronto não consegui comemorar demais, ainda tinha trabalho a ser feito. Mas pude pelo menos relaxar em relação a ter o dinheiro para publicar o livro e isso já foi um sonho. Depois de ter o livro todo desenhado e o dinheiro para imprimí-lo foi hora de contar com a ajuda dos amigos para fazer com que todo esse nada virtual virasse coisa real. A Marília, uma pessoa fantástica, grande amiga e namorada do Luís Felipe topou fazer os cachorrinhos de pelúcia que prometemos como prêmio no Catarse e suou a camisa pra fazer um trabalho incrível, todo mundo que viu o bichinho pronto teve um enfarto de fofura. Não poderia nunca deixar de agradecer muito um sujeito que entrou com a gente desde cedo e se tornou uma parte importante do Selo Quadrinhos Rasos que é o Matheus Dias, foi ele quem montou o livro e todos os brindes, quem fechou todos os arquivos e quem ajudou no design e na produção de todo o material final. Nada disso sequer existira se não fosse por ele, eu sou eternamente grato. Depois disso foi entregar o livro e os brindes durante o FIQ. Uma experiência realmente indescritível. Mais uma vez obrigado.

Agora voltando ao FIQ, realmente não dá pra explicar muito bem o que foi aquilo, mas vou tentar. A começar pela companhia na qual nos encontrávamos. Desde o início do ano vínhamos convivendo com os Pandemônios e tivemos a honra de sermos parte do grupo também. Para vocês entenderem melhor quem são essas pessoas e porque eu fico emocionado escrevendo isso olha só: o Luís Felipe é meu irmão, isso, irmão de pais diferentes que eu escolhi pra ser meu irmão e se não fosse ele as coisas que eu faço seriam enfadonhas. O Daniel Werneck gosta disso de um jeito que nunca vi ninguém gostar, quando ouvi ele falando durante o encerramento sobre como ele forjou um crachá de imprensa no primeiro FIQ para poder fazer parte daquilo, sobre como vendia fanzines escondido para fazer parte daquilo e sobre como agora ele era curador do evento, estava lançando um livro ali e era oficialmente parte daquilo eu fiquei engasgado, ainda mais porque agora eu também era parte do FIQ junto com ele e tive o privilégio de poder acompanhar todo o processo do seu livro. O Daniel Lima foi quem me ensinou que eu podia desenhar o que quisesse e abriu meus olhos pra isso, se hoje eu leio e vejo tudo de qualquer lugar é culpa dele, ter esse professor do meu lado fazendo isso junto comigo é incrível. O Ricardo Tokumoto tem um blog extremamente popular há muito tempo, e se mantém disciplinado e correto. A simpatia e o cuidado que ele tem com todo mundo é um exemplo para mim. O Vitor Cafaggi é um grande exemplo de pessoa e de artista, extremamente honesto e atencioso... e puxa vida, como o sujeito trabalha bem. Não dá nem pra ficar com raiva pelo tanto que ele é bom, porque ele é legal demais...legal demais mesmo, e do alto de sua competência ele estende a mão para ajudar a gente a subir com ele, incrível. E claro, foi graças a essa confluência de boas almas que eu pude conhecer a Lu Cafaggi, ela é a minha melhor pessoa, eu amo e admiro muito a Lu. Sou um sujeito muito sortudo mesmo, por ter encontrado ela e poder compartilhar tudo isso, toda essa felicidade com essa mulher que eu amo tanto. Então imaginem o orgulho de saber que ela e o irmão vão ser autores de uma das Graphic Novels da MSP, justamente da Turma da Mônica, e que fizeram aquele poster tão lindo! Não tenho dúvida de que farão um trabalho inesquecível. Meu amor é o máximo!

Tivemos a honra de conhecer e ter como pandemônios também o Crumbim e a Eiko, puxa vida, esse casal não existe, eles são de uma simpatia incrível e o livro deles dá vontade de apertar de tão fofo e bem realizado que ficou. Ter a companhia de vocês conosco no estande foi uma honra! Realmente, mal posso esperar para vê-los de novo. E foi muito bom conhecer todo mundo do Trapezistas, do Pipoca e Nanquim e o Raphael da MAD pessoalmente também! Pude finalmente conhecer pessoalmente o Sidney Gusman e caramba, que cara fantástico ele é. Completamente apaixonado pelo que faz, e de uma simpatia e honestidade sem fim, ele nos ajudou desde o primeiro dia e agradeço muito por isso. Sem falar que o FIQ escolheu os convidados internacionais pela simpatia, eu sei que eu puxei muito o saco do Cyril Pedrosa... mas não tinha como, eu sou completa e absolutamente apaixonado pelo trabalho dele e o sujeito ainda me aparece lá sendo aquela simpatia toda, não teve outro jeito. Desenhar ao lado dele e do Olivier no Oubapo foi um negócio de outro mundo. Ouvir o Cyril, o Bill Sienkiewicz e o Mauricio de Sousa elogiando meu trabalho foi surreal e por isso é importante colocar os pés bem fundo no chão agora e lembrar sempre que não sou rockstar, que isso não é a meu respeito mas sim em função de uma boa vida para todo mundo. Eu me sinto muito melhor quando lembro disso, e quando vejo artistas tão consagrados fazendo exatamente o mesmo.

Quando a gente, sem saber como, com que dinheiro, de que jeito, falou que ia lançar o Achados e Perdidos no FIQ o Afonso Andrade, em vez de desconfiar disse apenas: Beleza. E colocou isso lá na programação oficial do evento. Então ao Afonso, ao Werneck, ao Samuel, à Samara, ao André, ao Medroso e à todos os envolvidos na realização do 7º FIQ eu só tenho a agradecer. Foi nosso primeiro FIQ, que seja o primeiro de muitos e podem contar comigo para o que for preciso.

O estande do Pandemônio no FIQ foi a materialização do que o nome sugere. Esteve lotado praticamente o tempo todo e mais impressionante ainda, funcionando. Isso graças à Mitie, à Yasmin e à Lídia esses três anjos que fizeram a coisa acontecer!!! Elas são competentes, simpáticas e destruíram no gerenciamento e manutenção da coisa toda!!! Elas são demais, muito obrigado mesmo, por tudo que fizeram!

Aos amigos que compareceram em peso e nos ajudaram muito; e ao Leandro, meu irmão, pra quem não tem tempo ruim na hora de ajudar, muito obrigado mesmo.

Bem, o FIQ foi assim, mas eleve isso tudo ao quadrado ou mais, espero gastar todas as histórias antes do próximo, em 2013 para ter espaço para histórias novas. Ainda falta agradecer muita gente e contar muita coisa e dar muitos abraços por aí. Mas que foi o máximo, isso foi.

Por uma boa vida.


sábado, 16 de julho de 2011

Tempestade




É na tempestade que me sinto confortável, e nessa tormenta silenciosa estou em casa como nunca estive. Estou em casa onde ela estiver caindo, estou em mim, sentindo ao vivo o que deveria sentir. É confortável sob a chuva, e é tranquilo e nada poderia ser mais desafiador e emocionante que isso.

Não estive sozinho, seria injusto dizer isso, seria mentira também. É porque estiveram comigo que estou aqui e é porque estiveram comigo que cheguei inteiro. Vocês cataram os pedaços pelo caminho e foram extremamente gentis com eles. Obrigado.

Eternamente grato, e caminhando,

Por Uma Boa Vida.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Aniversário

Andei relapso com as pessoas. Não muito, admito. Mas andei relapso com as pessoas. E hoje, meu aniversário, sinto que deveria ter sido mais presente em alguns momentos. Cada bem dizer que ouço é um alento do tamanho do mundo, porque sou assim, gosto que gostem de mim. É uma vaidade ainda a ser vencida, mas não é escondendo que ela desaparece. Impossível ser unânime, já ouvi mais de uma vez dizerem: "mas porque alguém não gostaria de você?" seguido prontamente por um balançar de cabeça alheio, confirmando que existem sim, aqueles que por minha pessoa não têm qualquer apreço. Me esforço sempre e todos os dias pra ser uma versão melhor de mim. E pra ser gostado não sei se faço mais do que gostar de todo mundo. Não tenho feito mais que isso. E não vejo explicação cabível para tal, senão que tenho andado fazendo por mim uma ou outra coisa. Precisava que a vida desse certo, e tem dado. E vou continuar me esforçando para que da minha felicidade nasçam outras mil. E se existe qualquer explicação para que a colheita tenha sido boa é o fato de não ter nunca, estado sozinho. Então queria aproveitar meu aniversário pra agradecer tudo que tem acontecido, pra agradecer todo mundo por existir e dar os parabéns pra todos vocês por estarem aí, sendo vocês e vivendo suas vidas - todo e cada um a sua maneira. E gostaria de me desculpar por não ter estado mais presente, não ter dado aquele abraço de parabéns, não ter compartilhado um pouco da felicidade alheia. Faz falta. E faz muito bem. Obrigado, de coração.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Fac Simile





I promise I'll try to sleep in a while. But what can I say now? Well, you tell me.

"Sorry" - but for what, he said - sorry for not being there, sorry for not being by your side when you weren't there for yourself."

Oh, and I gotta tell you, I have not been there for myself most of my life, so I really missed you, mate.

But what a guy can do when all he's got is this strange and peculiar force that drives him forward. It's not like I want this, or as if I wish for it or anything. And I'm not saying that it's a bad thing, not at all. All I'm saying is that it's kinda of out of my control. I Just have to drive forward, and because of that I miss a lot of things in the way. I miss having someone by my side, someone to care about me and from whom I don't bother accepting help. Yeah, I really miss that, and I miss having fun without feeling guilty about it. I really don't remember when was the last time that happened. I keep felling that having fun is a kind of sin and that I'm not built for that. I'm supposed to do the right thing and my mind has it very clearly what it means by "the right thing".

It's not just the invisible hand pushing me forward - that is this annoying sense of "know it all". Wich is not always translated in arrogance, because I really wish for not being that way, but often it is. I never new what to do with this feeling. And for all my life I just accepted and kept being this obnoxious, pretentious, fat bastard. If I know anything? Yeah, I know something. I know quite a good deal about what I feel. But that was never enough. But about the world, altough I have this sense of not exactly knowing, but being able to understand each and every aspect of the world, I know nothing. What experience tells me is that I really don't know anything at all. I wish I did though.

During the last couple of months I took a decision, and I can't say if it was a easy or a hard one, it's just the one I came to it. If I'm supposed to live life like that, if I'm supposed to build everything up from scratch, then I'll be good as hell doing it so. I'm far from that, really, really far, but now I know that it is a way and not a fall, a road, not a drifting. I don't want to drift through life, I'll swim across it, and I'll strive for each stroke to be perfect, not quite in it's form or efficiency, but in it's consistency of being. And then, someday I'll be gone. If I can't have a child or build a family of my own, I'll at least make sure that everything I wish I have taught him or her is in public domain. But the things I'll miss learning, I'll always be bitter about those.


So far I have told you that I'm lonely, pretentious and that the only thing that motivates me is something that I really don't know what it is, but makes me feel real bad and guilty when I'm not trying my best to do things right. But I'm not willing to fix any of this. This are the things that are left of me, I respect that, and I'll make my best to respect whatever comes in my way. For now, I'm this lonely beggar, beggin for nothing, but tomorrow, or even later today, I might be someone else. You doubt it? Look at yourself, you've listened to me, that already made my day.

I am but I shouldn't be shy to bet that this song is about me. And I shouldn't be ashamed of felling terrified about ending my days like this as well. After all, that's what always been in my mind. I know I see myself not being able to pay my debt, being overwhelmed by life once again. Nonetheless, today I'm not here to make sense, but to write things as they come to me. I've edited some bits, but for the most part, I just wrote the words that came to my head, in the order they did. And no, I wish it was someone speaking trough me, but I think that this is just some me, speaking trough myself.

Good night.

Quantos dias dos quais não sei nada a respeito já se passaram, dias que não tive por não escolher tê-los. Ou só viveria os dias destinados a viver. Mas eu sei que perdi muita coisa, ou será a hora que eu fizer algo a respeito a hora de fazer algo a respeito? Há destino ao meu lado ou rindo da minha cara. E quanta vontade desfeita, por defeito, ou depseito, ou esperança vencida. Não sei quantos dias perdi mas vou me contentar com os que tive.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ano Novo





Muito bem, é o fim da primeira década do futuro. Partimos rumo à adolescência desse tempo que temos o privilégio imenso de ajudarmos a construir. As coisas podem até mudar em 2012, mas estou certo que serão dois anos intensos e extremamente divertidos. Agora, no entanto, venho aqui para dizer um obrigado. Hoje eu sei que a vida é muito curta pra ser pequena, sei que o acolhimento é mais importante que a tolerância, sei que somos suficientes, mas não auto-suficientes e sei que juntos, somos extraordinários. E se eu sei isso tudo agora, é porque estive com vocês, todo e cada um de vocês. Porque nasci na família em que nasci (todos formidáveis construtores de seus tempos), porque li e vi o que li e vi e porque não só tive sorte ao nascer como tenho tido sorte ao viver no que diz respeito às pessoas que conheci. Dizem que os amigos passam pela vida, e isso é verdade, mas ficam em mim, e disso faço questão. E não, eu não me importo se acreditam ou não. "Você diz isso mas sumiu, nem liga mais, nem dá notícias." Perdão, o amor não tem telejornal e independe do que vocês possam pensar. Eu sou muito grato por ter estado com todos vocês, e por tê-los comigo o tempo todo.

2010 foi algo como o primeiro ano de alguma coisa que não sei bem o que, mas me senti convocado à participar ativamente da realidade que quero construir. Esse é nosso tempo, não no sentido de sermos donos dele, nem de longe, mas da mesma forma que a busca pelo tesouro de Willie Caolho era o tempo dos Goonies "lá em cima, é o tempo deles, isso, aqui em baixo, é o nosso tempo". E eu quero fazer isso direito, meus filhos, ou seus filhos, e nossas contrapartes do futuro viverão em um mundo sensacional. A era digital acabou (segue lendo), já está tudo aí, temos infinitas formas de nos comunicarmos, não importa e não interessa, o que importa é que agora podemos nos concentrar na qualidade dessa comunicação. Podemos pensar o que queremos fazer com o que sabemos. E podemos começar a realizar o virtual que sonhamos. Do meu lado, quero desenhar, é bem simples. Não para mim, para um ou para outro mas para o que os de língua espanhola sábia e extraodinariamente chamam de "nosotros". Quero desenhar para todos nós, os outros. Enfim entendi que isso não é meu e não me pertence, é uma qualidade e não um privilégio. E eu quero ver o que tiverem pra desenhar, ler o que tiverem pra escrever, escutar o que tiverem pra tocar e quero ver o que acontece com a realidade, quando ela está submetida aos impulsos de nossos gênios domésticos e não quando nós estamos sujeitos aos caprichos do "é assim que funciona". Quero viver nesse mundo que, graças a vocês aprendi a amar, e aprendi a me sentir nele, independente de estar lá. Sou surpreendido constantemente por mudanças bruscas de humor, por rompantes de ansiedade que levam meu ar embora, por uma tristeza extrema que me faz querer desistir, que me joga no abismo do medo e do desassossego. Vez ou outra, sinto que é o fim, que agora já era, fora capturado pelas engranagens esmagadoras da imposição, do desleixo, das coisas como são.... mas então, um de nós, os outros, os vivos, os respirantes os descartográficos em potencial, me tira de lá. Sou colocado de volta no leme de minha vida, mais sábio, mais feliz e mais capaz. E mais consciente que aquela, por mais que pareça, não é uma ferramenta de controle, aquele leme é, quando muito, um sensor de fluidez - algo a ser observado e respeitado, porque ele sabe pra onde levar o barco, eu não sei.

Quero agradecer a vocês e a seus gênios, seus espíritos, suas consciências, suas razões ou o que quer que seja. Ao que parece, o próximo ano é um ano de colheita, quando tudo que plantamos dá frutos e nos alimenta. Pois bem, eu plantei vento, muito vento, nada palpável, nem uma maçã ou um alface que seja. Plantei hortas e mais hortas de vento. Até onde a vista alcança, plantei o invisível. E pra render na metáfora, terraplanei um morro pra cultivar possibilidades. Porque é na tempestade que me sinto confortável.

Dito isto, só posso esperar que minha gratidão seja de alguma valia, que minha vontade seja de alguma ajuda e que tenhamos todos vida em abundância.

O meu maior desejo é esse, que nosotros possamos, em 2011, viver por uma boa vida.

Feliz Ano Novo.



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Os invencíveis ou inderrotáveis

Personagens de "ficção" - esses sacos de linhagem recheados de meias-verdades. Para crermos neles, é preciso que tenham algo com o que possamos nos identificar...dizem. É preciso que tenham problemas, que sofram, que tenham contas a pagar ou que sejam injustiçados. É importante que chorem quando algo lhes perturba - temos que castigá-los como somos castigados - é preciso que em alguma instância, sejam criados a nossa imagem e semelhança. Foi o que ouvi dizer. Autômatos verossímeis que compartilham nossa concepção de existir em um mundo, independe sentirem-se maiores ou menores que o mesmo. O sofrimento ensina, glorifica, santifica nossos heróis.

Sem dúvida é importante que criemos expectativas pelos nossos pequenos pinóquios, afinal, se aquele sofrimento pareceu nosso, porque nós mesmos o criamos, aquela vitória também pode ser. E a derrota definitiva nos atinge como uma cusparada nojenta de frustração - que transformamos em ponderações epilogógicas, discussões acadêmicas, filosofia barata (ou cara) enfim, nos retorcemos e nos debatemos como se lutássemos a derradeira luta contra não sermos atendidos. Haverá ainda, sem dúvida, os que dirão que é assim "porque é assim" as pessoas perdem e morrem e sofrem - mais do que às vezes - ao longo de sua existência. E os que dizem isso não estarão errados, só cimentados eterna e confortavelmente na calçada do tempo.

É comum que gostemos da vitória ou da derrota de nossas pequenas sombras, tenho que confessar, no entanto, que meu apreço pelos desprovidos de problemas é imenso, gosto dos sociopatas que se acham invencíveis. Eles geralmente são. Personagens para os quais o mundo é algo tão distante que parece irreal, sem ser assombroso. Pelo contrário, o mundo não lhes diz nada de mais. E ainda que pareçam ter problemas vindos dessa realidade virtual e obsoleta na qual seus coadjuvantes vivem, são problemas feitos para que nós os vejamos, eles continuam ilesos a eles - ou mesmo foram forjados por esses problemas, mas como a espada castigada pelo calor e pelo martelo - só lhe é atribuído valor depois de se relacionar com a bainha. E digo isso desta forma justamente para que fique claro, não digo que é a guerra que glorifica a espada - mas sua relação com a bainha. Foram amigas inseparáveis ou pareceiras distantes, sujaram-se ou mantiveram-se limpas - são as relações mais básicas nos tempos mais confusos que escrevem as histórias que queremos conhecer.

Antes que o fio se rompa, voltemos aos invencíveis. Sherlock não se martiriza pelos seus vícios, nós fazemos isso pelo sujeito sem seu consentimento e sentimos saber mais sobre ele do que o próprio - que sabe mais sobre todo o resto do que jamais saberemos. Mas não tenho dúvidas de que ele entende cada vírgula da sua relação com o mundo. Capitão Nemo lança-se nas profundezas oceânicas só depois de perscrutar sua própria escuridão. Importam-se com realidades tão maiores e mais simples que perdem-se e distanciam-se da confusão que é a película de sobriedade lunática que inventamos para nos cobrir. Essa camada fina, suja e pegajosa para a qual temos uma infinidade de nomes, mas cuja complexidade impede que lhe demos apenas um. A nossa noção de relação com o mundo nos distancia dele. Mas o invencíveis sempre estarão a abri-lhe buracos. O Sr.Holmes e o bom capitão não estão sozinhos, há muitos outros - os heróis contemporâneos que deixamos passar - há uma história, e um personagem por quem tenho infinito apreço, de acordo com o evangelho de Judas - e nesse ponto já está claro que não nos separo de nossas criações, existimos tanto quanto eles - o dito traidor realiza o ato vil de trair Jesus a pedido do mesmo. Gosto de acreditar que lhe é incubida esta tarefa não porque era o mais fiel, o mais crente, mas porque era o amigo. Porque era o único capaz de distanciar-se daquela realidade e daquela situação - o único que compreendia de fato o que Jesus estava fazendo. E foi extrema e absoultamente contra a decisão de Jesus não porque temia a punição, em qualquer de suas formas - ele entendia que os anos passariam e seria preciso exisir uma certa dose de maniqueísmo para que fossémos convidados a pensar no mundo além de nossos umbigos - relutou porque resultaria no sofrimento de seu amigo, e não há como não relutar a isso - mas estava no mesmo patamar que Jesus nesse momento, sabia que tudo que ele dizia fazia sentido e que era a melhor opção... então atendeu ao pedido incabido e de certa forma injusto de seu amigo. Mas não sei se qualquer um dois dois sabia o que os fã-clubes de Deus fariam com isso...bem, acontece. O fato é, gosto dos invencíveis, dos dissociados, dos descartográficos eles sempre estarão lá para o que for importante. Sempre teremos um Judas para acreditar nas nossas sandices bem intencionadas, um Sherlock Holmes para nos livrar da maldição de não saber, um capitão Nemo que nos guie em segurança pelo desconhecido, um Totoro que nos faça companhia quando a chuva for pesada e a espera angustiante.

Gosto de pensar em como seriam nossos heróis, qual seria o recheio de nossos sacos de linhagem, gosto de pensar que se enchermos eles com a ingenuidade da esperança, a ignorância em relação às impossibilidades e dermo-lhes por pés os sentimentos e a intuição, caminharão no rumo certo. Para ajudar-lhes na jornada os ensinamos a serem gentis com seu recheio e os abarrotamos de realidade, para que a conheçam, e a esqueçam no caminho.