quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

HOJE TÁ MELHOR QUE ONTEM




Tenho uma boa vida de fato. Bem criado, bem cuidado e querido. E no reino do que sinto, prospera um amor infinito pela humanidade e pelos que me cercam. E estes últimos, têm cada um sua opinião a meu respeito, elas transitam por vias diversas tem começos, meios e fins distintos e fico feliz em saber que posso ser todas essas possibilidades. Estes personagens constantes em minha epopéia particular ou "eupopéia" (para que a leitura não fique mais insalubre que o necessário) sabem um bom tanto de mim - tomo os que amo por família e amo minha família e é a esses grupos de indivíduos que me refiro quando falo em personagens constantes. Pois bem, o fato de saberem tanto de mim se dá porque independente do que faça me denuncio constantemente, meu corpo é incapaz de fingir alegria ou satisfação e mesmo em âmbitos mais sutis estes são sentimentos raros e não sou menos feliz por isso. É um fato apenas, não uma verdade absoluta. Os fatos, como todo resto, são inconstantes.

Durante muito tempo, vivi feliz e satisfeito sem precisar me preocupar com o amor romântico, encarei os meus deslizes, minhas fraquezas, minhas incompetências, encarei o sujeito vilanesco no espelho e me tornei aquilo. Experimentei um pouco das gradações mais escuras do cinza e me permiti um ou outro ato levemente hediondo. Nessa investida ao desaconselhável tomei conhecimento da infinidade de luminárias espalhadas em cada canto escuro e comprovei que o inferno é de fato, pessoal. Continuava ansioso para saber de mim, do mundo e da vida, e continuei. Foi o amor descartográfico, aquele ao qual não impomos coordenadas, que me manteve vivo e respirando. A satisfação de ver os que amo navegarem deixou o morto enterrado ser seguro e sonoro. E a isso sou e serei eternamente grato. Aprendi, de certo modo, que não gostamos das pessoas porque elas gostam da gente e não amamos as pessoas porque elas nos amam. Da mesma forma que "ser", amar também é intransitivo. Uma crença que me ajudou e ajuda muito a cada manhã. Graças a essa intransitividade me permiti amar uma infinidade de pessoas e isso trouxe senão demonstrações sinceras de amor por parte delas. "E ainda que saiba que as flores perdem a força e a ventania vem mais forte, ainda que continue acreditando no pulsar das minhas veias." Ainda que Fagner faça sentido e faça sofrer, o noturno amanhece. Foi então que comecei a sentir um antigo incômodo.

Ou pelo menos, era como eu o percebia, um incômodo, que depois virou um formigamento estranho e eventualmente notei que havia um ritmo ali. Uma cadência, uma harmonia e criava uma melodia agradável. Acordei de manhã, e meu coração estava mais uma vez batendo onde deveria. Foi como se ganhasse uma segunda chance de participar da realidade, mas não sabia como. Tinha vivido tanto tempo em auto-exílio, não lembrava como era sentir. É em tal contexto que revisito antigas percepções. (nota: Percepção é o que tenho por memória, a lembrança de como me senti sempre foi mais intensa do que a lembrança de qualquer verbo ou substantivo). Em meio à essas visitas trombo com antigos preconceitos, tão antigos que se desfazem em pó antes que eu possa tocá-los. Escolho me distanciar das referências tradicionais, saio um pouco do meu mundo e abro lugar para pesquisa musical em meio ao universo visual no qual transito. Foi um processo gradual, a música sertaneja trilhando devagar seu caminho no meu gosto. Sem os velhos preconceitos, a honestidade crua das letras podia voltar a fazer sentido nos meus ouvidos. Relembrar como era sentir, me fez reaprender a existir e agradeço em grande parte aos senhores César Menotti e Fabiano por esse passeio pela memória. Transborda simpatia da dupla de irmãos, e isso é importante, independente do que sejam de fato (e eu não acredito que sejam diferentes) como figuras públicas são boas pessoas, bons seres humanos, e é disso que precisamos agora. Que toda influência seja convertida em boa vontade, boas ações e aplicadas em função de uma boa vida. Ao longo do processo relembrei também que trabalho para fazer as pessoas se sentirem bem, e se sentirem dispostas a serem sempre melhores. O velho coração reclama, enguiça, mas toca em frente.

Às figuras próximas e constantes, pretendo continuar agradecendo e homenageando diariamente, mas hoje faço um agradecimento à distância à todos os sertanejos do país, obrigado pela honestidade do que cantam. E uma homenagem singela pro Cesar e pro Fabiano porque eles são simpáticos.



Muito Obrigado a todos e um grande abraço.

Que tenhamos um bom dia e uma boa vida.

Eduardo Damasceno.