terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ano Novo





Muito bem, é o fim da primeira década do futuro. Partimos rumo à adolescência desse tempo que temos o privilégio imenso de ajudarmos a construir. As coisas podem até mudar em 2012, mas estou certo que serão dois anos intensos e extremamente divertidos. Agora, no entanto, venho aqui para dizer um obrigado. Hoje eu sei que a vida é muito curta pra ser pequena, sei que o acolhimento é mais importante que a tolerância, sei que somos suficientes, mas não auto-suficientes e sei que juntos, somos extraordinários. E se eu sei isso tudo agora, é porque estive com vocês, todo e cada um de vocês. Porque nasci na família em que nasci (todos formidáveis construtores de seus tempos), porque li e vi o que li e vi e porque não só tive sorte ao nascer como tenho tido sorte ao viver no que diz respeito às pessoas que conheci. Dizem que os amigos passam pela vida, e isso é verdade, mas ficam em mim, e disso faço questão. E não, eu não me importo se acreditam ou não. "Você diz isso mas sumiu, nem liga mais, nem dá notícias." Perdão, o amor não tem telejornal e independe do que vocês possam pensar. Eu sou muito grato por ter estado com todos vocês, e por tê-los comigo o tempo todo.

2010 foi algo como o primeiro ano de alguma coisa que não sei bem o que, mas me senti convocado à participar ativamente da realidade que quero construir. Esse é nosso tempo, não no sentido de sermos donos dele, nem de longe, mas da mesma forma que a busca pelo tesouro de Willie Caolho era o tempo dos Goonies "lá em cima, é o tempo deles, isso, aqui em baixo, é o nosso tempo". E eu quero fazer isso direito, meus filhos, ou seus filhos, e nossas contrapartes do futuro viverão em um mundo sensacional. A era digital acabou (segue lendo), já está tudo aí, temos infinitas formas de nos comunicarmos, não importa e não interessa, o que importa é que agora podemos nos concentrar na qualidade dessa comunicação. Podemos pensar o que queremos fazer com o que sabemos. E podemos começar a realizar o virtual que sonhamos. Do meu lado, quero desenhar, é bem simples. Não para mim, para um ou para outro mas para o que os de língua espanhola sábia e extraodinariamente chamam de "nosotros". Quero desenhar para todos nós, os outros. Enfim entendi que isso não é meu e não me pertence, é uma qualidade e não um privilégio. E eu quero ver o que tiverem pra desenhar, ler o que tiverem pra escrever, escutar o que tiverem pra tocar e quero ver o que acontece com a realidade, quando ela está submetida aos impulsos de nossos gênios domésticos e não quando nós estamos sujeitos aos caprichos do "é assim que funciona". Quero viver nesse mundo que, graças a vocês aprendi a amar, e aprendi a me sentir nele, independente de estar lá. Sou surpreendido constantemente por mudanças bruscas de humor, por rompantes de ansiedade que levam meu ar embora, por uma tristeza extrema que me faz querer desistir, que me joga no abismo do medo e do desassossego. Vez ou outra, sinto que é o fim, que agora já era, fora capturado pelas engranagens esmagadoras da imposição, do desleixo, das coisas como são.... mas então, um de nós, os outros, os vivos, os respirantes os descartográficos em potencial, me tira de lá. Sou colocado de volta no leme de minha vida, mais sábio, mais feliz e mais capaz. E mais consciente que aquela, por mais que pareça, não é uma ferramenta de controle, aquele leme é, quando muito, um sensor de fluidez - algo a ser observado e respeitado, porque ele sabe pra onde levar o barco, eu não sei.

Quero agradecer a vocês e a seus gênios, seus espíritos, suas consciências, suas razões ou o que quer que seja. Ao que parece, o próximo ano é um ano de colheita, quando tudo que plantamos dá frutos e nos alimenta. Pois bem, eu plantei vento, muito vento, nada palpável, nem uma maçã ou um alface que seja. Plantei hortas e mais hortas de vento. Até onde a vista alcança, plantei o invisível. E pra render na metáfora, terraplanei um morro pra cultivar possibilidades. Porque é na tempestade que me sinto confortável.

Dito isto, só posso esperar que minha gratidão seja de alguma valia, que minha vontade seja de alguma ajuda e que tenhamos todos vida em abundância.

O meu maior desejo é esse, que nosotros possamos, em 2011, viver por uma boa vida.

Feliz Ano Novo.



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Os invencíveis ou inderrotáveis

Personagens de "ficção" - esses sacos de linhagem recheados de meias-verdades. Para crermos neles, é preciso que tenham algo com o que possamos nos identificar...dizem. É preciso que tenham problemas, que sofram, que tenham contas a pagar ou que sejam injustiçados. É importante que chorem quando algo lhes perturba - temos que castigá-los como somos castigados - é preciso que em alguma instância, sejam criados a nossa imagem e semelhança. Foi o que ouvi dizer. Autômatos verossímeis que compartilham nossa concepção de existir em um mundo, independe sentirem-se maiores ou menores que o mesmo. O sofrimento ensina, glorifica, santifica nossos heróis.

Sem dúvida é importante que criemos expectativas pelos nossos pequenos pinóquios, afinal, se aquele sofrimento pareceu nosso, porque nós mesmos o criamos, aquela vitória também pode ser. E a derrota definitiva nos atinge como uma cusparada nojenta de frustração - que transformamos em ponderações epilogógicas, discussões acadêmicas, filosofia barata (ou cara) enfim, nos retorcemos e nos debatemos como se lutássemos a derradeira luta contra não sermos atendidos. Haverá ainda, sem dúvida, os que dirão que é assim "porque é assim" as pessoas perdem e morrem e sofrem - mais do que às vezes - ao longo de sua existência. E os que dizem isso não estarão errados, só cimentados eterna e confortavelmente na calçada do tempo.

É comum que gostemos da vitória ou da derrota de nossas pequenas sombras, tenho que confessar, no entanto, que meu apreço pelos desprovidos de problemas é imenso, gosto dos sociopatas que se acham invencíveis. Eles geralmente são. Personagens para os quais o mundo é algo tão distante que parece irreal, sem ser assombroso. Pelo contrário, o mundo não lhes diz nada de mais. E ainda que pareçam ter problemas vindos dessa realidade virtual e obsoleta na qual seus coadjuvantes vivem, são problemas feitos para que nós os vejamos, eles continuam ilesos a eles - ou mesmo foram forjados por esses problemas, mas como a espada castigada pelo calor e pelo martelo - só lhe é atribuído valor depois de se relacionar com a bainha. E digo isso desta forma justamente para que fique claro, não digo que é a guerra que glorifica a espada - mas sua relação com a bainha. Foram amigas inseparáveis ou pareceiras distantes, sujaram-se ou mantiveram-se limpas - são as relações mais básicas nos tempos mais confusos que escrevem as histórias que queremos conhecer.

Antes que o fio se rompa, voltemos aos invencíveis. Sherlock não se martiriza pelos seus vícios, nós fazemos isso pelo sujeito sem seu consentimento e sentimos saber mais sobre ele do que o próprio - que sabe mais sobre todo o resto do que jamais saberemos. Mas não tenho dúvidas de que ele entende cada vírgula da sua relação com o mundo. Capitão Nemo lança-se nas profundezas oceânicas só depois de perscrutar sua própria escuridão. Importam-se com realidades tão maiores e mais simples que perdem-se e distanciam-se da confusão que é a película de sobriedade lunática que inventamos para nos cobrir. Essa camada fina, suja e pegajosa para a qual temos uma infinidade de nomes, mas cuja complexidade impede que lhe demos apenas um. A nossa noção de relação com o mundo nos distancia dele. Mas o invencíveis sempre estarão a abri-lhe buracos. O Sr.Holmes e o bom capitão não estão sozinhos, há muitos outros - os heróis contemporâneos que deixamos passar - há uma história, e um personagem por quem tenho infinito apreço, de acordo com o evangelho de Judas - e nesse ponto já está claro que não nos separo de nossas criações, existimos tanto quanto eles - o dito traidor realiza o ato vil de trair Jesus a pedido do mesmo. Gosto de acreditar que lhe é incubida esta tarefa não porque era o mais fiel, o mais crente, mas porque era o amigo. Porque era o único capaz de distanciar-se daquela realidade e daquela situação - o único que compreendia de fato o que Jesus estava fazendo. E foi extrema e absoultamente contra a decisão de Jesus não porque temia a punição, em qualquer de suas formas - ele entendia que os anos passariam e seria preciso exisir uma certa dose de maniqueísmo para que fossémos convidados a pensar no mundo além de nossos umbigos - relutou porque resultaria no sofrimento de seu amigo, e não há como não relutar a isso - mas estava no mesmo patamar que Jesus nesse momento, sabia que tudo que ele dizia fazia sentido e que era a melhor opção... então atendeu ao pedido incabido e de certa forma injusto de seu amigo. Mas não sei se qualquer um dois dois sabia o que os fã-clubes de Deus fariam com isso...bem, acontece. O fato é, gosto dos invencíveis, dos dissociados, dos descartográficos eles sempre estarão lá para o que for importante. Sempre teremos um Judas para acreditar nas nossas sandices bem intencionadas, um Sherlock Holmes para nos livrar da maldição de não saber, um capitão Nemo que nos guie em segurança pelo desconhecido, um Totoro que nos faça companhia quando a chuva for pesada e a espera angustiante.

Gosto de pensar em como seriam nossos heróis, qual seria o recheio de nossos sacos de linhagem, gosto de pensar que se enchermos eles com a ingenuidade da esperança, a ignorância em relação às impossibilidades e dermo-lhes por pés os sentimentos e a intuição, caminharão no rumo certo. Para ajudar-lhes na jornada os ensinamos a serem gentis com seu recheio e os abarrotamos de realidade, para que a conheçam, e a esqueçam no caminho.

domingo, 22 de agosto de 2010

[e como vai ser]

25/11/09

Não tinha a menor idéia e não se importava porque, pela primeira vez em muito tempo, retomara o leme de sua embarcação descartográfica. Vislumbrava um mundo de problemas a frente, não havia dúvidas, mas estava em boa corrente e de velas novas. Em velocidade de cruzeiro, seria sol e tormenta da própria jornada. Começara-lhe o verão, não sentia falta da primavera ou temia a chegada do outono. Além da janela, no entanto, no primeiro ano da era de peixes, findava o estio e o outono batia suas primeiras folhas secas no chão. Viveria seu verão no outono do mundo. Parecia-lhe um bom estar o que ele poderia ser naquele momento. Parou de pensar pelo tempo sendo e tomou daquele ar como se fosse a golfada derradeira.

Pensou: "está tudo bem". E não estava se enganando dessa vez.

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não tenho conseguido escrever esses dias, então por enquanto vou resgatar alguns textos antigos que andam fazendo sentido de novo.
Por uma boa vida.

terça-feira, 30 de março de 2010


Chamam de solidão meu jeito de acordar, de comer, de ir ao cinema ou de dormir. Chamam de solidão o modo como amarro os sapatos, visto as bermudas, desarrumo meu quarto. Se tudo que chamam, tivesse o nome solidão, abandonariamos o léxico e solidão solidão solidão solidão.

Estou mais cansado de mim do que só. Em prol da sanidade mental seria interessante dividir um pouco do que sou, e ter um pouco de um mundo alheio pra me divertir. Mas isso é acordo antigo, há tempos escolhi saber mais do que aguentaria, escolhi tentar mais do que conseguiria e deixar de ser quando a insuficiência fosse insuportável. Ainda não é. Pela vida que consegui fico só comigo.

Talvez não haja eufemismo que dê conta, da mesma forma que não há dinheiro que pague pelas minhas vontades, ainda que burguesas. Há de fato um acordo antigo que não posso mudar agora, além do mais não sinto as solidões que me recomendam sentir. Mas sobro comigo e com meu vasto leque de incompetências. Não amar é estar morto, não é o caso, estou só. Sentindo faltas metafóricas, teóricas, sortidas e aleatórias.... com sorte, durmo elas pra fora de mim hoje.



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

HOJE TÁ MELHOR QUE ONTEM




Tenho uma boa vida de fato. Bem criado, bem cuidado e querido. E no reino do que sinto, prospera um amor infinito pela humanidade e pelos que me cercam. E estes últimos, têm cada um sua opinião a meu respeito, elas transitam por vias diversas tem começos, meios e fins distintos e fico feliz em saber que posso ser todas essas possibilidades. Estes personagens constantes em minha epopéia particular ou "eupopéia" (para que a leitura não fique mais insalubre que o necessário) sabem um bom tanto de mim - tomo os que amo por família e amo minha família e é a esses grupos de indivíduos que me refiro quando falo em personagens constantes. Pois bem, o fato de saberem tanto de mim se dá porque independente do que faça me denuncio constantemente, meu corpo é incapaz de fingir alegria ou satisfação e mesmo em âmbitos mais sutis estes são sentimentos raros e não sou menos feliz por isso. É um fato apenas, não uma verdade absoluta. Os fatos, como todo resto, são inconstantes.

Durante muito tempo, vivi feliz e satisfeito sem precisar me preocupar com o amor romântico, encarei os meus deslizes, minhas fraquezas, minhas incompetências, encarei o sujeito vilanesco no espelho e me tornei aquilo. Experimentei um pouco das gradações mais escuras do cinza e me permiti um ou outro ato levemente hediondo. Nessa investida ao desaconselhável tomei conhecimento da infinidade de luminárias espalhadas em cada canto escuro e comprovei que o inferno é de fato, pessoal. Continuava ansioso para saber de mim, do mundo e da vida, e continuei. Foi o amor descartográfico, aquele ao qual não impomos coordenadas, que me manteve vivo e respirando. A satisfação de ver os que amo navegarem deixou o morto enterrado ser seguro e sonoro. E a isso sou e serei eternamente grato. Aprendi, de certo modo, que não gostamos das pessoas porque elas gostam da gente e não amamos as pessoas porque elas nos amam. Da mesma forma que "ser", amar também é intransitivo. Uma crença que me ajudou e ajuda muito a cada manhã. Graças a essa intransitividade me permiti amar uma infinidade de pessoas e isso trouxe senão demonstrações sinceras de amor por parte delas. "E ainda que saiba que as flores perdem a força e a ventania vem mais forte, ainda que continue acreditando no pulsar das minhas veias." Ainda que Fagner faça sentido e faça sofrer, o noturno amanhece. Foi então que comecei a sentir um antigo incômodo.

Ou pelo menos, era como eu o percebia, um incômodo, que depois virou um formigamento estranho e eventualmente notei que havia um ritmo ali. Uma cadência, uma harmonia e criava uma melodia agradável. Acordei de manhã, e meu coração estava mais uma vez batendo onde deveria. Foi como se ganhasse uma segunda chance de participar da realidade, mas não sabia como. Tinha vivido tanto tempo em auto-exílio, não lembrava como era sentir. É em tal contexto que revisito antigas percepções. (nota: Percepção é o que tenho por memória, a lembrança de como me senti sempre foi mais intensa do que a lembrança de qualquer verbo ou substantivo). Em meio à essas visitas trombo com antigos preconceitos, tão antigos que se desfazem em pó antes que eu possa tocá-los. Escolho me distanciar das referências tradicionais, saio um pouco do meu mundo e abro lugar para pesquisa musical em meio ao universo visual no qual transito. Foi um processo gradual, a música sertaneja trilhando devagar seu caminho no meu gosto. Sem os velhos preconceitos, a honestidade crua das letras podia voltar a fazer sentido nos meus ouvidos. Relembrar como era sentir, me fez reaprender a existir e agradeço em grande parte aos senhores César Menotti e Fabiano por esse passeio pela memória. Transborda simpatia da dupla de irmãos, e isso é importante, independente do que sejam de fato (e eu não acredito que sejam diferentes) como figuras públicas são boas pessoas, bons seres humanos, e é disso que precisamos agora. Que toda influência seja convertida em boa vontade, boas ações e aplicadas em função de uma boa vida. Ao longo do processo relembrei também que trabalho para fazer as pessoas se sentirem bem, e se sentirem dispostas a serem sempre melhores. O velho coração reclama, enguiça, mas toca em frente.

Às figuras próximas e constantes, pretendo continuar agradecendo e homenageando diariamente, mas hoje faço um agradecimento à distância à todos os sertanejos do país, obrigado pela honestidade do que cantam. E uma homenagem singela pro Cesar e pro Fabiano porque eles são simpáticos.



Muito Obrigado a todos e um grande abraço.

Que tenhamos um bom dia e uma boa vida.

Eduardo Damasceno.