quarta-feira, 5 de novembro de 2008

[5 de novembro]




" Remember, remember the Fifth of November,
The Gunpowder Treason and Plot,
I can think of no reason
Why the Gunpowder Treason
Should ever be forgot.
Guy Fawkes, Guy Fawkes, t'was his intent
To blow up the King and Parli'ment.
Three-score barrels of powder below
To prove old England's overthrow;
By God's providence he was catch'd
With a dark lantern and burning match.
Holloa boys, holloa boys, let the bells ring.
Holloa boys, holloa boys, God save the King

A penny loaf to feed the Pope
A farthing o' cheese to choke him.
A pint of beer to rinse it down.
A fagot of sticks to burn him.
Burn him in a tub of tar.
Burn him like a blazing star.
Burn his body from his head.
Then we'll say ol' Pope is dead.
Hip hip hoorah!
Hip hip hoorah hoorah!"

Não que eu seja um grande entusiasta de explosões. Menos ainda do Alan Moore. Mas é 5 de novembro, e isso é fato incontestável. E se não tomo anarquia por ideologia, não é por não tomar a anarquia. É que de ideologias já se fartaram a pança e o vaso. E de toda forma, a intolerância à lactose se estende à discussões políticas e religiosas, assim como à "moralidades" em geral.

E em qualquer outro dia eu diria
"mas há que respeitar
mas há que respeitar"
e talvez seja fato
contudo é 5 de novembro
e "em giro cada vez mais largo
o falcão não escuta ao falcoeiro."
o massai põe fogo no navio negreiro
o bom moço vai ao puteiro
a virgem dá pro mundo inteiro
descobre-se mago o jovem oleiro
um grupo de escrivãos bebe do tinteiro
e o cuspe disso é preto.
então hoje,
não importa o que digas
é 5 de novembro.
ainda que fosse outro o argumento.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

[uma coisa]

O que você quer ser quando crescer? Autor de livro, quero fazer um livro e viver dos direitos autorais dele e nunca mais ter que fazer mais nada. Isso mesmo, UM livro, eu dizia...que teria que vender mais que a bíblia aparentemente. A idéia de trabalhar muito nunca foi a vencendora nos meus concursos mentais de idéias plausíveis. Sempre fui ansioso, queria terminar as coisas rápido "ficar livre delas" e não sabia porque e nem me importava. Mas hoje eu entendo melhor. Depois que conheci as coisas das quais eu "não quero me livrar" rapidamente, as coisas que eu faria pra sempre, com um sorriso na cara madrugada depois de madrugada. Descobri sobre a realidade imposta e meu desajeito pra estar nela, e que vinha daí meu desespero por atender seus pedidos no menor tempo, e voltar correndo pra vida de verdade. Agora, ainda não posso responder o que sou depois de crescido. Só com o passado pra trás fui começar a querer ser pirata, navegador, aventureiro. Só depois de ser apresentado às inúmeras impossibilidades impostas aos capitães bravios, fui querer ser um. E vou continuar tentando me livrar eficientemente, mas sem pressa, das tarefas a mim encubidas pela língua maliciosa da adultescência. Para em seguida voltar, descansado, aos braços acolhedores da vida. Não muito diferente da observação que Corto Maltese faz sobre as mulheres: "Seriam perfeitas, se pudéssemos deitar em seus braços sem cair em suas mãos". Mas é uma máxima muito amarga... O calor do abraço independe da vilania das mãos. E a vida independe das augúrias supostas, ela está, antes e depois do que quer que seja, e não está lá, mas logo aqui.

O que eu queria ser quando crescesse? Queria viver, no entanto achava que tinha que me livrar da realidade imposta antes, com meu "um" livro. Agora co-existo com essa mesma realidade, existo aqui, mas em função de uma boa vida.

E hoje? Hoje quero inventar mundos e gentes que são, em alguma instância obscura, como os que conheço. Quero achar as caras e os corpos certos no meio de tantos outros e fazer um mundo bonito pra eles. E quero colocar um pouco de vida de verdade nisso tudo, minha parte da vida, da qual já abri mão a tanto tempo, mas se puder, queria usá-la nessas coisas...

"Amor é outra coisa."

Por uma boa vida.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Coração

"O coração é o músculo mais forte do corpo humano" ouvi dizer. Deve ser mentira, não acredito que seja forte... talvez o mais insistente e com o maior poder regenaritvo. O mais imaginativo. O coração deseja e quer. Alheio à carcaça que o envolve, ele toma seu próprio rumo, por acreditar no porvir. Por querer bater em outros tempos, outros pousos - sofrer da fúria impetuosa de outras estacas, e de outras de flechas de cupido. O corpo que nos veste é a unica armadura que o coração precisa. A doença de sermos algo, não protege, mas aflige, afeta e mantém o coração mole. Talvez pudesse dizer que o coração é do tamanho dos colhões. Mas coragem e desafio são consequencias primárias - e não pré requisitos - da opção por uma boa vida. De toda forma, o coração bombeia vida na carcaça, mas está longe de ser a origem ou fim do que quer que seja. Seu meŕito é, talvez, ser o músculo mais forte do corpo humano... mas ele compete - de acordo com o google - com um músculo que usamos pra mastigar e com um outro nos glúteos... e levando em consideração que engolimos muita merda e tomamos muito na bunda... a competição está apertada pro nosso pequeno bombeiro. Dizem muita asneira em nome do coração, assinam com ele tratados inteiros sobre a vaidade, a ingênuidade e pobre do amor, escondido sob a massa de concreto que tomam por coração. Mas é tudo parte da grande solução, afinal de contas o primeiro passo é o problema posto. E se o coração fosse de fato alado, como o da música...não acredito que o faria, mas caso voasse pra longe, seria um Ícaro fajuto, não chegaria nem perto do sol, ele é daqui, da realidade imposta, move a carcaça mas só nela ele faz parte da grande mesma coisa. Tenho um carinho enorme pelo coração, ele de fato suporta um bom bucado de acontessâncias e continua batendo feliz, está aí alguém que sabe seu lugar no mundo e sabe da sua importância - e não reclama, só volta a bater. E um dia, quando cansa, ele pára, feliz por ter ajudado mais alguém a fazer parte disso aqui. Três vivas pro coração...

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Parte

Um quarto de mim
metade do que posso
no meio do caminho


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operando
a meia luz, meia bomba, meia sola. meio mais ou menos. meio ácido, meio
básico. melhor assim: já começou, mas não é o fim.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

[café]

É sem segredo, dizia, dê-me um pouco e prometo: volto cedo, lavo louça e endureço. Ela não duvidava, pois, veja bem, estavam ali 14 crianças pra comprovar o dito. Amavaela, amava os filhos e cuidava muito bem de tudo. "Direitinho." Dizia a moça com brilhos nos olhos.


E por que, mesmo assim, aventurou-se a tomar chá? Nunca se soube. Mas o fez e desde então está de cama, "mortinho da silva" ela dizia. E não era eufemismo... estava mesmo... morreu de chá. Acontece.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

[samurai]

Isso já tem um tempo considerável, mas fui um desses irritantes aficcionados por coisas japonesas. E eu adorava samurais. Eventualmente, desencantei. Agora posso escolher o que gosto e o que não gosto nas coisas que vejo, sem ter minhas vontades e gostos dirigidos pela necessidade patológica de coerência com meu fanatismo.

E sendo assim, achei interessante quando peguei pra ler o Hagakure, o livro do samurai, depois de tanto tempo. E consegui simpatizar com o senhor Yamamoto Tsunemoto, autor da coisa. Esses samurais tinham tudo pra terem as cucas fodidas, mas focavam sua atenção no que estivessem fazendo. Às vezes não parece, mas é um puta jeito saudável de encarar as coisas. Especialmente se o que vc estiver fazendo no momento for desviar de flechas ou cortar cavalos.

De fato, os tempos são outros, e o que sobra de tudo é sempre a universalidade delas, sua relação com a Grande mesma coisa. E por isso o Sr. Yamamoto me pareceu uma boa figura. Em meio a recomendações sociais, estratégias de batalha e a faláscia padrão do samurai subordinado dá pra vislumbrar o que ele queria de fato que a gente soubesse. E ao longo da história da humanidade temos um punhado de gente legal assim, geralmente são vangloriados como gênios ou pensadores a frente de seus tempos... não que não fossem... mas quando a gente pensa assim, nos distanciamos deles e reafirmamos nossa posição sonâmbula de respirantes. Eles eram bons navegantes, o Sr. Yamamoto, o Sr. Tesla, o Sr. Oda e tantos outros, tantos mesmo. Foram e são muitos e vão ser mais, e eventualmente serão só eles, mas eles e nós seremos os mesmos, todos bons navegantes. Pairando além do mapa da realidade imposta. Nós vivemos no tempo que estava a frente deles.

Penso assim, mas não é bandeira, filiação, crença, partidarismo, ideologia. Já cumpri meu compromisso com a vida, o de permitir que ela fosse maior que qualquer falta que eu pudesse sentir, qualquer tristeza que se abatesse sobre mim. O que, nem de longe, quer dizer que não vá sentir faltas, ou tristezas, eu só entendi que elas são menores que a vida. Tenho outros objetivos agora. E muitos eu nem sei quais são. Só me parece uma coisa muito interessante continuar vivendo e descobrindo as coisas e sabendo do que ainda não sei. Falei sobre apaixonar-se há alguns dias atrás e pedi: Não me entendam errado. Não adiantou muito, as pessoas continuaram achando que eu só desprezo a paixão. Mas é que isso, como a tristeza, é menor que a vida também. E prefiro deixar o deslumbramento pra quando nos arrebata, não pra depois ou pra antes disso. E ainda fico feliz quando ganho sorrisos simpáticos de bom dia das minhas companheiras de natação. (ok, pausa pra todo mundo pensar em hidroginástica e imaginar a D.Edna me dando um belo beijo de bom dia ao mesmo tempo que reafirma sua vontade de que eu conhecesse sua neta, com quem ela se parecia muito quando era nova.) Mas não, tô falando da moça simpática que nadou na mesma raia que eu hoje e que tem o sorriso de bom dia mais agradável do mundo.

Eu não desprezo isso, pelo contrário, acordei bem chateado com as coisas e pensando em um discurso enorme sobre como é difícil que as pessoas entendam que amar o mundo não diminui o carinho que temos por pessoas específicas, é só diferente. E diferente é bom. Mas bem, era um disurso maior que esse parágrafo e o sorriso de bom dia da moça me fez deixar isso pra lá. Por enquanto é melhor trabalhar pra diminuir minha pretensão, que se prova enorme vide o tanto que eu escrevi aqui.

Por uma boa vida.

Um pouco do Sr. Yamamoto:

"...(sobre inteligência, humanidade e coragem)...A inteligência não é nada mais do que debater com outras pessoas. A sabedoria ilimitada é resultado disso. A humanidade é algo que se faz em benefício dos outros, simplesmente nos comparando a eles e os colocando em primeiro plano. Ter coragem é cerrar os dentes e avançar, independentemnete da situação. Não é preciso conhecer coisa alguma além dessas três."

"Para atingir a pefeição, é preciso se abster de aventuras amorosas. Você precisa de muita força de vontade pra fazer isso." *eu discordo, mas é perfeitamente compreensível a afirmação dele.

"Dizem que o espírito de uma era é algo para o qual não se pode retornar. A dissipação gradual desse espírito se deve ao fato de o mundo estar sempre em processo de transformação. Da mesma forma, um ano não possui apenas o inverno e o verão. O mesmo ocorre com o dia.
Por essa razão, embora gostássemos que o mundo ainda tivesse o espírito de cem anos atrás, isso não pode ser feito. Exatamente por isso é importante fazer o melhor a cada geração. Esse é o grande erro dos saudosistas. Eles não conseguem ver as coisas dessa maneira. Por outro lado, as pessoas que se interessam apenas pelos tempos atuais e discordam dos métodos do passado são muito frouxas."

"A vida do ser humano é realmente curta. A melhor maneira de viver é levar a vida fazendo o que você gosta. É tolice passar toda a vida envolvido pela ilusão que é este mundo, vendo coisas desagradáveis e fazendo apenas coisas de que não gosta. Mas é importante nunca dizer isso aos mais jovens, pois seria prejudicial se não fosse compreendido corretamente.
Quanto a mim, gosto de dormir. Pretendo me confinar cada vez mais dentro do meu quarto e passar a vida dormindo."

terça-feira, 6 de maio de 2008

[tauto]

tanto tauto sem tato tortura o tímpano tenaz
de quem, perguntavam taciturnos
de todos, de todos.
e não se surpreendiam.

domingo, 4 de maio de 2008

Velha Edna

Quem diria que naquele corpanzil grotesco. Quebrado pelo tempo e maltratado pela gravidade caberia tamanha graça. Ah, velha Edna, na escada: um trambolho prestes a afundar... mas era só isso, um toque na água, bastava molhar os pezinhos gordos, e pronto. Uma foca galante, flamboiante, rodopiante. Vitoriosa. Maldita Edna, em todo seu esplendor cúbico tira de todo e qualquer aspirante a vontade de competir. Campeã OutraGaláxtrica de hidroginástica.... ah, velha edna, que o tempo lhe conserve a sutileza mamutesca dos seus giros.

para Edna.

sábado, 3 de maio de 2008

Velho

O tempo pássaro
e eu aqui mamífero
infrutífero

a prosa de merda
poesia concreta
completa autofagia

cada um comendo
a própria carne
como se o verbo escrito
fosse por decreto
vero verbo

haja pretensão.

por isso,
macarrão e parafuso
indo e voltando
n'água nos resolvemos
hidroginasta a caminho

mantenham as piscinas limpas